Confira artigo de Francisco Rabelo e Célio Melo

15 de junho de 2020 - 14:47

 

 

As Crises à Flor da Pele e o Encontro de um Mundo 4.0, por Francisco Rabelo e Célio Melo

Em recente artigo Now is the time for a “Great Reset” (jun-2020), Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, instiga-nos a uma grande redefinição de nossas bases econômicas e sociais e enfatiza que o mundo melhor precisa “agir rápido e em conjunto”.

A “Great Reset” (a Grande Redefinição, em tradução livre) vislumbra ambiciosas oportunidades de mudança num cenário devastador causado pela pandemia da Covid-19, que tornará a vida mais difícil para todos. Afloram, assim, emoções e disparidades que se mostram à flor da pele, destacando ansiedadesreveladoras de intolerâncias e discriminações às populações marginalizadas.

Num cenário de crédito seletivo e preconceituoso, oposto ao pregado por Muhammad Yunes, de que deveria ser considerado um direito humano, empresários têm vivido o dilema diário entre honrar gastos correntes versus investir em novas tecnologias e preparar-se para um mundo em transformação e muito competitivo. A grande maioria das famílias passa pelo mesmo conflito “a venda do almoço para a compra do jantar”.

Enquanto isso, lideranças se perdem na busca incessante pelo poder e fazem renascer o Leviatã de Hobbes (1651) com monstruosidade muito maior e como a panaceia dos dias de céu fechado. A proteção enganosa para os incautos. E o “me engana que eu gosto” de obras públicas maquiadoras e suntuosas em detrimento da infraestrutura básica de atendimento aos mais vulneráveis socialmente. Um cenário que poderia ser convergente, se Estado e mercado trabalhassem de forma complementar e em cooperação para corrigir suas imperfeições. A sociedade seria mais acolhida na geração de empregos e qualidade de vida.

A proposta de Schwab encontrou como primeiro e forte adepto a Alemanha de Angela Merkel, (sic), com o relançamento da economia alemã, discutindo redução do IVA (Imposto sobre o Valor Adicionado), programa de renda mínima de € 300 por criança para as famílias, e duplicação do prêmio para  aquisição de veículos elétricos – um voto importante para as sustentabilidades econômica, social e ambiental. A “nova Alemanha” nos dá a lição sobre a cooperação de ideias e a busca por uma transformação profunda da economia mundial, iniciada localmente. O contexto Alemão parte de um equilíbrio orçamentário.

O Novo Desenvolvimento parte de um design disruptivo e digital, com a oportunidade de redefinir o protagonismo nas soluções. O ano de 2020 será inexoravelmente definido como um ponto de mutação na trajetória da indústria global. A partir de então, a competitividade passa a requerer maior complexidade das ações e a leitura correta das ambiguidades e incertezas, num ambiente global com alta produtividade dos fatores de produção. Esses são os limites a serem rompidos e se espera que as nações e empresas abandonem a letargia no campo da inovação e tecnologia.

Quais seriam as lições para o Brasil? Na contramão, optou-se por soluções rápidas e simplistas, excluindo o conhecimento da pauta, em busca de resultados imediatos sem sustentabilidade econômica, nem socioambiental no longo prazo. Um exemplo é a reforma da previdência que, limitada pelo “conservadorismo dinâmico”, não permitiu alterações no status quo, sem mudança de regimes e contemporizando algumas classes privilegiadas de benefícios. Precisava ser aprofundada. O cenário tem sido um porto aberto para a tempestade perfeita de crises. Somam-se uma crise sanitária, uma econômico social e uma político-institucional concomitantes.

Mais uma vez nos é dado o benefício da escolha de optar por mais uma década perdida ou pelo protagonismo mundial, ancorado num potencial inexplorado de riquezas e um tamanho continental de mercado.

Precisamos tornar as pontas dos icebergs do futuro visíveis.

O pensamento sistêmico, complexo e disruptivo não seria uma forma utópico-idealista de enfrentar as adversidades e, sim, o caminho para encontrar o otimismo e esperança em vantagens competitivas e vocacionais em nosso País. A mudança do mindset da sociedade passa pelo enfrentamento da corrupção pandêmica e um olhar diferente sobre o futuro para se estabelecer o papel do Estado básico e do Mercado eficazes, eficientes e efetivos na sua condução. O resultado será uma inflexão positiva para a sociedade, resguardando ao Estado o papel de facilitar o ambiente de negócios, desembaraçar a burocracia da corrente de comércio e aos mercados a ampliação dos investimentos, a geração de emprego e renda. Cingir-se a diretrizes básicas de sustentabilidade econômica, social e ambiental, simplificar a estrutura tributária, priorizar investimentos públicos de infraestrutura, principalmente para cobrir déficits de precariedades da logística intermodal, das cadeias produtivas da água e da energia. Por fim, a consolidação e atualização dos marcos regulatórios a esse novo mundo.

No mundo, A disputa da geopolítica sino-americana revela a tecnologia 5G como fator importante para o poder geoeconômico. A internet oferece em suas nuvens de dados vantagens competitivas com velocidade medida em nanosegundos, que possibilita uma nova dinâmica da Internet das Coisas e BigData, trazendo novos fatores de melhoria da produtividade e competitividade à mesa. A Nova Indústria terá que se adaptar rapidamente à demanda por investimentos céleres para reposicionamento da indústria tradicional das 2ª e 3ª Revoluções Industriais para a 4.0. Esse é o contexto pós-pandêmico e inexorável que precisamos nos adaptar rapidamente.

Os setores antes divididos em primário, secundário e terciário, confundem-se produtivamente para uma indústria de agronegócios, de serviços digitais, de logística integrada aos canais de distribuição. A Nova Indústria tem cadeias produtivas interconectadas e interdependentes em sua superestrutura e combina a infraestrutura que cria riqueza nas vocações regionais. A produtividade se fortalece com a biotecnologia. Carros elétricos, soluções de autonomia de baterias e formas de captar energias têm sido experimentadas em estradas construídas com placas de células fotovoltaicas em simbioses industriais. A busca de autoprodução e autonomia altera o uso da matriz energética. Temos a obrigação de influenciar o deslocamento do eixo gravitacional do desenvolvimento.

Nossa leitura fala de uma nova retomada da indústria aeroespacial, com veículos autônomos e sustentabilidade. Segurança alimentar, água, energias renováveis, e qualidade de vida para pessoas vulneráveis passam a ter um componente pandêmica de virtuosidade em tempos de avanço da virtualidade.

O ano de 2020 mostrou que estamos expostos a riscos de doenças infecciosas em escala global ainda sem controle, com alterações virais sem precedentes na história. A Força dos Covid-20,21, 22 e n, somente poderão ser superados pelo avanço da ciência. Esperamos que 2021 seja um ano disruptivo, principalmente para países em desenvolvimento. A transição dos modelos precisa de capitais financeiro, humano, tecnológico e institucional, com foco e prioridade para a nova ordem. Teremos que nos reconverter no curto prazo para obtermos resultados melhores para todos a médio e longo prazos.

*Francisco José Rabelo do Amaral, advogado formado pela UFC, Mestre em Administração, com especialização contábil-financeira, pela UFRJ/COPPEAD, executivo de áreas financeiras e de investimento, no BNB e ADENE/SUDENE. Assessor da SEDET-CE.

*Célio Fernando B Melo, economista pela UNIFOR, pós-graduado em Administração de Empresas (UFRJ-COPPEAD) e em Administração Financeira, Mestre em Negócios Internacionais, Doutorando em Relações Internacionais UL/ISCSP. Sócio-Diretor da BFA Assessoria em Finanças e Negócios.

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