A falta que faz um projeto para o Brasil
23 de maio de 2016 - 13:19
Artigo do secretário adjunto Cláudio Ferreira Lima publicado no último dia 22, no jornal O POVO
Um país com a expressão econômica, demográfica e ecológica como o Brasil não pode, em absoluto, prescindir de um projeto de nação. Houve a tentativa do Plano Brasil 2022, que não prosperou. Talvez a euforia com a quitação da dívida do FMI, o investment grade, o “pleno emprego” e a “nova classe média” tenha abortado a iniciativa.
Isso não impediu, claro, tirar 45 milhões da miséria, tecer vasta rede de proteção social, pôr a universidade ao alcance de muitos e adotar a valorização do salário mínimo.
Mas, para Frei Beto, próximo a Lula, foi um erro querer ser o pai dos pobres e a mãe dos ricos, facilitar o acesso mais a bens de consumo do que a bens sociais e não ver os movimentos sociais como meio para qualificar quadros políticos e fortalecer a democracia. Para completar, a melhoria de vida do andar de baixo incomodou parte da classe média, propiciando a eclosão do ódio de classe.
No campo produtivo, a exportação de commodities para a China impulsionou o agronegócio, que esteve em alta até mais recentemente.
Quanto à indústria, o Plano Brasil Maior não gerou os resultados esperados. E, a despeito de o “Minha Casa, Minha Vida” ter aquecido o ramo da construção civil, o da transformação, dínamo da economia, retraiu-se, perdendo posição no PIB.
Na área vital do conhecimento, expandiu-se a educação profissional e tecnológica, e houve o fortalecimento da universidade e dos centros de pesquisa, embora aquém das necessidades. A política regional, trocada pela social, manteve válida a metáfora da locomotiva e dos vagões.
Sobre a infraestrutura, o PAC ainda exerce pouco impacto no PIB. E o crescimento, em vez de apoiar-se no investimento (o rentismo prevaleceu), o fez no crédito, no consumo e nas commodities, um ciclo que já se exauriu. Na política externa, a formação do Brics deu relevo ao País no cenário internacional, não obstante os protestos velados dos Estados Unidos.
Houve inegáveis avanços, mas as ações, em geral, não tiveram caráter estruturante (faltaram reformas de base), de modo a fincar pilares para consolidar e dar sustentação ao processo de desenvolvimento.
Sem rumo bem definido, o País fica sujeito aos altos e baixos e até mesmo ao caos programado.
Apesar de o alvo principal ser Lula, os interesses contrariados internos e externos juntaram-se para tirar Dilma de qualquer jeito. A operação Lava Jato serviu de fulcro para o movimento orientado e orquestrado de dentro e de fora com tal objetivo, e o impeachment, em curso, como afirma The New York Times, faz Dilma “pagar preço desproporcional”.
Distante da população, pelos “notáveis” que o compõem e pelas medidas obscurantistas que toma, o governo provisório dedica-se a subtrair conquistas da sociedade e do País. Não permitamos tamanho absurdo! O que a vida quer da gente, ensina Guimarães Rosa, é coragem. À luta!