Do quarto setor
12 de agosto de 2015 - 12:51
Artigo do secretário adjunto Cláudio Ferreira Lima, publicado no último dia 9, no jornal O POVO
É moeda corrente a divisão da economia em três setores básicos: primário, a agropecuária; secundário, a indústria; e terciário, os serviços.
Tudo começou no Censo da Nova Zelândia de 1891 e no Censo da Austrália de 1901; ambos, porém, referiram-se unicamente à “produção primária”. Somente no Censo da Nova Zelândia de 1921 é que se incluiu a “produção secundária” (Fisher, Allan. G.B., Production, Primary, Secondary and Terciary. In: Economic Record, N. 15, June 1939, p. 26).
Ocorre que a economia ganhou complexidade, e os dois setores tornaram-se insuficientes para responder a uma questão fundamental: onde alocar os recursos para a obtenção do maior grau de desenvolvimento possível? A resposta veio com o acréscimo da “produção terciária”. Só dessa forma poderiam ser identificados os “pontos de crescimento” (Fischer, Allan, op. cit., p. 30).
Colin Clark (que, com Allan Fisher, é o criador da “teoria dos três setores”), em palestra de 1938, definiu a “produção terciária” como as atividades que não eram nem primárias nem secundárias.
Desde então, o mundo conheceu profundas transformações; a economia mudou qualitativamente. Jean Fourastié, prefaciando “O quaternário: seu espaço e poder”, de Mário Tomelin (Brasília: Editora UnB, 1988, p. 6), afirmou, à época, que “O setor quaternário será o setor-chave do século 21”.
De fato, os tempos presentes caracterizam-se pela globalização e, nas águas dela, pela competição exacerbada entre empresas e mesmo entre países e blocos econômicos. Nesse processo, tomaram vulto dois subsetores do terciário: ciência & tecnologia e cultura, que passaram a ocupar posição tão essencial na estratégia de desenvolvimento que devem constituir o quarto setor, ou seja, o quaternário, que abriga a área do conhecimento.
É nesse setor onde residem a inteligência organizada, a fonte da inovação e a força da criação, as quais, nessa nova “divisão do trabalho”, exercem influência decisiva sobre os demais setores, conduzindo ao aumento da produtividade e da competitividade da economia e à melhoria de vida de todas as camadas da sociedade.
O quarto setor deve merecer, portanto, toda a atenção dos governos – se, claro, buscam mesmo o desenvolvimento – no sentido de apoiar o seu fortalecimento e promover a sua articulação com os demais setores.
A propósito da cultura, conforme Celso Furtado, o objetivo central a ser perseguido deve ser a liberação das forças criativas da sociedade, abrindo espaços para que ela floresça (Cultura e desenvolvimento em época de crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 32).
Neste curto artigo, temos apenas uma incursão exploratória; é preciso aprofundar o assunto com as críticas e sugestões dos leitores, e, sobretudo, convencer os governos a adotarem o quarto setor nos seus planos de desenvolvimento. Voltaremos ao tema.